Muito tem se falado – e cada vez mais – a respeito do esporte como meio de se tirar crianças e adolescentes das drogas. Não incluiremos aqui a vida no crime ou a depressão, pois nosso escopo de discussão é reduzido ao consumo de drogas. Apresenta-se o esporte como a alternativa saudável, o caminho correto para uma vida melhor, onde tem-se a opção de adquirir novos hábitos e novos valores para a vida.
E realmente o esporte traz novos hábitos, diferentes em quase tudo daqueles aos quais uma pessoa se acostuma quando está viciada em drogas ou em um consumo constante de entorpecentes. Os valores mudam, pois entra-se com disciplina, determinação, um certo regramento nos hábitos alimentares e nos hábitos de vida de um modo geral. E em muitos casos as crianças e adolescentes podem encontrar novos rumos para suas vidas.
Até o momento em que entram para o esporte profissional e competitivo. Neste âmbito, lamentavelmente, não podemos nos jactar em afirmar uma mudança para um estilo de vida mais saudável ou longe das drogas, haja visto a quantidade enorme de atletas completamente comprometidos em sua saúde devido ao alto nível de exigência por resultados, bem como o aumento considerável de casos de doping em quase todos os esportes possíveis.
Quando pensamos neste lado do esporte, parece-nos ser apenas uma troca de drogas ilegais do ponto de vista civil para drogas ilegais do ponto de vista esportivo. Em que pese questões de vício, overdoses e questões familiares e civis, as drogas utilizadas no esporte podem comprometer em alto grau a saúde de um atleta, bem como sua possível vida pós-esporte. Aqui navegamos por um terreno já conhecido mas ainda com muito a ser explorado e descoberto.
O desenvolvimento de drogas cada vez mais poderosas e eficientes, bem como “invisíveis” aos testes anti-doping compromete não apenas a saúde de seu consumidor, sendo apenas uma troca de drogas, como acabamos de mencionar. Mas ensina valores muito contestáveis a seu consumidor, pois o doping é, antes de tudo, uma trapaça, um engano, um desvio de condução.
Seu consumo é a corroboração de um caráter corrompido, fraco, desejoso de vitória a qualquer preço, seja ele a saúde, seja sua honra e seus valores. Um estudo comparativo bastante esclarecedor seria um comparativo entre o percentual de atletas cujas mortes foram causadas por consumo de substâncias consideradas dopantes para aumento de performance e o percentual de dependentes químicos mortos por overdose ou dívida com drogas. Os resultados poderiam surpreender.
O esporte amador, o esporte como possibilidade de novos hábitos segue como algo importante, renovador na vida de um ser humano. Mas somos bastante céticos quando saltamos do esporte amador para o esporte profissional e competitivo. Olhemos para os atletas sobreviventes do consumo de substâncias dopantes e vejamos suas condições de saúde quando chegam aos 50, 60 anos ou mais.